A pessoa que caminhava pelas ruas do centro da cidade de São Paulo no início da década de 1970, especialmente no entorno das ruas Rego Freitas, Nestor Pestana, do velho Bar Redondo e do Teatro de Arena facilmente cruzaria com um vendedor de bilhetes de loteria oferecendo modestamente o tão sonhado passaporte para a felicidade; a alegria oferecida por tal prêmio era buscada especialmente por grande parte dos trabalhadores, que do tal milagre econômico só ouviam falar através do Jornal Nacional, então órgão oficioso dos militares de plantão. Porém, poucos daqueles transeuntes poderiam imaginar a trajetória daquele vendedor de bilhetes com carregado sotaque carioca, que havia desembarcado na terra da garoa para buscar a sua sobrevivência e quem sabe também encontrar o caminho para sua felicidade; não através do prêmio que poderia vir de um bilhete premiado e sim gritando seus sambas nas rodas e escolas da cidade como fazia desde criança nas batucadas, terreiros e tendinhas do morro do Salgueiro.