Desde os seus primórdios o samba era visto como um lugar de resistência, sociabilidade e solidariedade, realizado em fundos de quintais, em porões ou barracões, sempre esteve presente nas margens da sociedade, buscando espaço entre as frestas, feito o bailado do malandro Zé. Como resultado da elaboração feita nas bordas de uma sociedade marcada pela exclusão, o samba foi riscando seu caminho no asfalto (com a benção dos malandros e das damas da noite), construindo uma ponte entre o sagrado e o profano, forjando e reafirmando a ancestralidade e a identidade de uma população, que no limiar do século XX também fora colocada a margem pelo poder constituído. Ao contrário dos imigrantes europeus que começavam a desembarcar nos portos do país inseridos em um projeto de branqueamento da nação, os escravizados africanos não tiveram tal escolha, para aqueles homens e mulheres que atravessaram o oceano acorrentados em porões, a longa viagem não apresentava um feixe de esperança no horizonte, e sim o desterro do seu lugar de origem.